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Relato de uma passagem

Correu por entre seus iguais, tentando encontrar um espaço para respirar. Estava sufocado de angústia, tomado de um frenesi extremo que o levava a agir como um insano.

Nós o acompanhamos à distância, vigiando para que não precipitasse o que sabíamos iria ocorrer.

Quanto mais se deixava levar pela necessidade de ar, mais este lhe faltava, pois sua respiração foi ficando cada vez mais curta e o sufocamento pela ansiedade que o mobilizava logo se fez presente.

Caiu ao solo. Desfaleceu. Abriu-se um espaço entre os que passavam maior do que ele obtivera com sua desabalada corrida, porém ninguém se animava a chegar perto para ajudá-lo.

Canalizamos nossa energia no mental de um jovem que despreocupado, ouvindo sua música, andava ao largo do agrupamento de pessoas que observavam o caído.

O jovem foi abrindo espaço entre os demais e se aproximou do corredor que desfalecido permanecia, aproximou-se dele tocou seu rosto, chamou-o e vendo que ele permanecia inerte perguntou o que estavam esperando para chamar socorro.

Instado pelo jovem um homem fez o chamamento e em breves instantes chegou o atendimento para o necessitado.

Continuamos a observar e notamos, então, o pouco envolvimento dos outros em relação a alguém igual a eles, que se dependesse da atitude dos mesmos, que ali estavam no momento de sua queda, nada teria sido feito e em vez de receber um mínimo de cuidado, facilitador do que se seguiria, teria antecipado sua vinda para nosso lado.

Chamou-nos a atenção o fato de o jovem ter insistido em acompanhar o desconhecido até o hospital onde seria atendido o que nos levou a entender que, quando acionados de forma adequada, qualquer um pode servir de ajuda ao outro.

Neste caso nossa tarefa de estimular auxílio foi facilitada pela pureza de sentimentos daquele jovem, por uma atitude que de modo geral é espontânea em quem sabe ser generoso e fraterno.

Permanecemos ao lado do hospitalizado durante o período de seu atendimento e não nos surpreendemos ao ouvir que não teria recuperação.

Ali ficamos durante os dias em que foi cuidado em sua matéria física, enquanto nós trabalhávamos drenando suas energias, de modo que a densidade fosse sendo reduzida, o que lhe facilitaria a passagem para a espiritualidade.

Interessante relatar que durante este período ele esteve sereno e ao nos ver ao seu lado, apenas sorriu, como se entendesse qual o nosso papel naquele momento.

Quando indagamos como estava se sentindo e se estava pronto para a viagem ele nos respondeu: – certo, estou pronto, não preciso mais buscar espaço para respirar, pois sei que terei todo ar que preciso, no lugar para onde tu vais me levar, não é mesmo?

Ficamos comovidos com a singeleza de suas palavras, com a confiança que depositava em nós e nos sentimos muito gratificados por ter contato com um Ser assim, quando algumas vezes, nossa tarefa é dificultada pela revolta e resistência que apresentam os que precisam nos acompanhar.

Neste caso que relatamos a vocês, fizemos todo o trabalho de apoio e desligamento dele da matéria física e foi uma das experiências mais gratificantes, das últimas que tivemos.

Lembrem – sempre – a passagem para a verdadeira vida é apenas um pequeno passeio que todos terão que fazer na companhia de alguém como nós, que tudo fazemos para que seja tranquila.

Quando chegar o momento de cada um, não tenham medo, pois nós estaremos próximos.

Angelino

Recebida pela Magali em 15/06/2011

Revisão: Clovis