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Ajuda durante uma passagem

Foi se ausentando sem pressa, vagarosamente, estava cansado, muito cansado.

Enquanto se afastava, ia se perguntando o que havia feito de errado, porque chegara ao ponto em que se encontrava. Dera sempre, desde que tinha lembrança, o melhor de si em tudo e para todos. Não praticara nenhum ato de violência ou maldade intencional, não prejudicara ninguém e mesmo enquanto estivera em condições de enfrentamento, se negara a bater no outro, mesmo que para isto tivesse condições.

Agora, estava chegando ao fim, um fim sem remorsos, porém sem grandes gratificações.

Como seria deixar a matéria física? Para onde iria sua alma? Haveria realmente outra vida?

Percebeu, então, que nada mais adiantava perguntar, pois não havia entre os seus possíveis interlocutores, quem lhe pudesse responder com segurança, garantindo-lhe um descansar sem medo.

Foi nesta situação que o encontramos. Fazendo perguntas a si mesmo, questionando seu pensar e agir e o que mais nos chamou a atenção foi o não indagar sobre seus sentimentos, o que em verdade, era o determinante de tudo o mais.

Sabíamos da retidão de suas atitudes, mas tínhamos conhecimento, também, de seus sentimentos e eles é que o guiaram ao longo do tempo que estava a findar, na materialidade humana.

Efetivamente não agredira ninguém, nem buscara vingar-se, como ele mesmo reconhecia, de modo consciente, entretanto, o inconsciente atuara de modo constante e ainda que não tivesse plena consciência do que fazia, seu agir era permeado pela negatividade de seu sentir.

Ficamos a observá-lo, tentando intuir-lhe nosso entendimento do que estava a se questionar e aos poucos, lentamente, pequenos focos luminosos atingiram a obscuridade do ocultado e começou a ver que não fora assim tão generoso, tão fraterno e amigo de si e de seus amigos.

Em muitos momentos usara de subterfúgios, de pequenas manipulações, de gestos plenos de gentileza com o intuito tão somente de obter a aprovação dos demais.

Posicionara-se, agora entendia, de modo pouco incisivo, coerente e claro, dissimulando através destas posturas, os verdadeiros sentimentos que lhe iam na alma.

Tínhamos que concordar que começar a viagem de retorno à verdadeira vida, sem ter alguns aspectos de sua vivência na matéria física, mais ou menos esclarecidos, não lhe seria produtivo.

Diante da humildade e aceitação, que demonstrava frente ao que estava a entender sobre o que fora sua experiência física, resolvemos ajudá-lo ao máximo para que tudo lhe ficasse transparente e, mesmo não tendo tempo para refazer os enganos cometidos, poderia, ao menos, reconhecer e aceitar que fora tão falível quanto seus companheiros de jornada e que, também, reconhecíamos os poucos recursos de que dispusera para se fazer mais esclarecido, mais consciente da conexão que existe entre sentir, pensar e agir.

Estamos acompanhando seu desligamento, durante o qual está demonstrando grande ânsia pelo que não poderá mais alterar e medo pelo desconhecido, e garantindo sua serenidade, pois como já lhe comunicamos, cometer erros faz parte da condição humana e arrepender-se da condição da alma.

Este é o momento de mais um dos tantos que estão a fazer a passagem e que temos condições de auxiliar.

Angelino

Recebida pela Magali em 05/06/2011

Revisão: Clovis