Desapegando
Não esperem o momento final para perceber o quanto estão apegados a coisas e pessoas.
O apego serve apenas para dificultar o desligamento da matéria física, não só no preciso momento em que ocorre como, também, no período imediatamente posterior, quando já na espiritualidade ficam a querer junto a si os afetos que deixaram e a lamentar os objetos que dizem ser de valor afetivo e que precisaram abandonar em poder de outros.
Observamos extremado sofrimento, ainda, quando constatam o uso que estão fazendo ou o rumo que estão dando a coisas, que só foram importantes para aquele a quem pertenciam e que para os outros não possuem significado.
O mais difícil continua sendo o distanciamento dos afetos, o não mais poder interferir no que estão fazendo, os que eram parte integrante de seus relacionamentos mais próximos.
Outra circunstância que dificulta uma serena passagem à espiritualidade, quando o viajante é muito apegado, é o não aceitar que os que ficam precisam continuar suas vidas e em muitos momentos eles não são lembrados como gostariam, constatam que não são mais importantes como se consideravam e em tais situações sentem-se traídos, como se os remanescentes precisassem permanecer estagnados em suas vivências, apenas conectados com o que não mais está entre eles.
Pensem todo momento que aquilo que ora lhes pertence, num momento inesperado pode deixar de ser seu; que aquela relação tão valiosa com o pai, a mãe, o filho, o irmão, o companheiro ou o amor que está a compartilhar, pode deixar de existir quando menos esperam, portanto, entreguem-se nas relações afetivas com alma e coração, mas não permitam que elas sejam fundamentais, indispensáveis para que sua existência siga o rumo determinado.
Façam o exercício da doação, compartilhem objetos; passem para outros, coisas que tiveram significado num determinado momento, mas que ora só geram lembranças; não se prendam a lugares, situações, pessoas.
O filho está sob sua responsabilidade, porém não é seu; o companheiro divide suas vivências por um tempo, que pode não ser permanente; a atividade profissional que num instante o faz importante e lhe dá reconhecimento e ganhos abundantes, pode por qualquer imprevisto, ser perdida; o amigo que compartilhava seus momentos delicados resolve se afastar devido a outros desafios e assim, nada do que você considera sua propriedade, sua posse em verdade o é.
Mantendo com objetos, espaços, relações o devido distanciamento oportunizará, também, que as situações vividas sejam valorizadas no momento em que acontecem, pois poderão não se repetir ou lhe ser tirada inopinadamente.
Tenham, sem ter. Usufruam de tudo que lhes for alcançado, vivenciem todos os afetos que se apresentem, mas não se apeguem a nada, nem a ninguém, pois, com isto, estarão agindo em benefício próprio para que, no instante de seu desligamento da materialidade humana, possam fazer a passagem de modo leve, sereno e sem aflições desnecessárias.
Reflitam e coloquem em prática o que estamos a lhes sugerir.
Angelino
Recebida pela Magali em 20/06/2011
Revisão: Clovis